Os partidos da oposição acusaram o Governo dos Açores de não ter preparado suficientemente o setor do leite para o fim do regime das quotas de produção, tendo o executivo rejeitado a acusação e manifestado confiança nos agricultores açorianos.
"Eu sinto orgulho nos agricultores da minha região, porque estão cada vez melhor preparados para ultrapassar os desafios do futuro", afirmou Vasco Cordeiro, presidente do Governo dos Açores, em resposta às críticas da oposição durante um debate de urgência sobre o setor leiteiro, no parlamento regional, agendado pelo CDS-PP.
O chefe do executivo açoriano entende que há duas formas de analisar o fim do regime de quotas leiteiras: "Podemos dizer que está tudo mal, que isto vai ser uma desgraça, que vamos morrer todos, ou podemos dizer que, da mesma forma que chegámos até
aqui, também vamos vencer estes desafios", afirmou, considerando que os produtores açorianos, e também a indústria, fizerem um "extraordinário trabalho" no "passado recente", no sentido de se modernizarem e responderem "ao desafio da qualidade e quantidade".
Vasco Cordeiro afirmou que "o principal efeito" do fim das quotas é a necessidade de, "ao contrário do que acontecia até aqui", haver uma atenção às "dinâmicas mundiais neste domínio", destacando que o impacto da liberalização do mercado se fará sentir ao longo do próximo ano, obrigando a uma monitorização de longo prazo para "agir em conformidade".
Graça Silveira, do CDS/PP, tinha considerado antes, no arranque deste debate, que o Governo açoriano não preparou o setor para o fim das quotas leiteiras, a 01 de abril.
"Durante anos, a região adotou um modelo de desenvolvimento em que as explorações leiteiras, para se tornarem economicamente rentáveis, faziam-no à custa do aumento do volume de produção", disse a deputada do CDS, considerando que esse modelo se tornou agora "claramente obsoleto".
Uma opinião partilhada por Paulo Estêvão, do PPM: "O que é que o Governo fez? Não fez absolutamente nada. E o que é que poderia ter feito ao longo destes 12 anos [desde que foi confirmado o fim das quotas]? Era ter a capacidade para saltar para novas estruturas produtivas", defendeu o parlamentar monárquico.
Aníbal Pires, do PCP, disse que esta discussão já devia ter ocorrido mais cedo, antes do fim das quotas, que disse ser uma medida da responsabilidade dos três maiores partidos.
"Tarde demais para nos pormos aqui de mãos dadas, a derramar lágrimas de crocodilo, sobre o leite derramado pela política do PS, do PSD e do CDS/PP", disse o deputado comunista.
Já Renato Cordeiro, do PSD, voltou a defender a criação de um mecanismo europeu que permita a intervenção de Bruxelas perante a oscilação dos preços do leite.
"Há que procurar países aliados, criar pressão na União Europeia, para que haja um sistema de compensação na descida dos preços, atuando quando se atingir um valor considerado mínimo ao preço do leite", insistiu o parlamentar social-democrata.
A bancada do PSD insistiu ainda na necessidade de ser criado um observatório do leite nos Açores, que acompanhe e perceba a formação dos preços.
Lúcia Arruda, do Bloco de Esquerda, condenou o fim das quotas, sublinhando que a liberalização dos mercados pode ter repercussões bastante negativas, como já aconteceu noutros setores.
"É bom que nos lembremos que foi o mercado livre, na área financeira, que deu origem à crise de 2008, da qual ainda não saímos, e que tanto sofrimento continua a provocar às pessoas", sublinhou a deputada bloquista, que lembrou que o BE vai levar propostas sobre a questão do leite à Assembleia da República que incluem "medidas extraordinárias" para apoiar os produtores regionais e nacionais.
O secretário regional da Agricultura sublinhou, por seu turno, todo o trabalho efetuado na última década na melhoria das explorações agrícolas nos Açores, com vista a dar-lhes competitividade e adaptá-las à nova realidade.
Neto Viveiros insistiu, no entanto, na necessidade de ser criado em Bruxelas um mecanismo de apoio aos agricultores dos Açores, para compensar eventuais perdas de rendimentos, dada a ultraperiferia da região.
"A região vai manter junto das instâncias nacionais e comunitárias uma forma de pressão no sentido de serem encontrados mecanismos tendentes a minimizar os previsíveis impactos do desmantelamento das quotas", frisou Neto Viveiros.
Também o deputado do PS Duarte Moreira disse ser a favor de um regime europeu de compensação para os produtores açorianos, mas considerou serem igualmente necessárias medidas de nível nacional.
"A nível nacional, há que criar um verdadeiro código de boas práticas de distribuição, que regule a relação entre fornecedores e distribuição, os prazos de pagamento, os custos de comercialização e evite preços abaixo de custo", frisou.
Fonte: Açoriano Oriental
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