A única plantação de café na Europa localiza-se em São Jorge, Açores, e tem uma produção suficiente para abastecer o Café Nunes, na Fajã dos Vimes, por onde passam pessoas "até de longe" só para provar o expresso local
A plantação de Manuel Nunes, 63 anos, fica nas traseiras do seu café e, ao todo, tem hoje entre 350 e 400 plantas. Quando comprou o primeiro terreno, há 35 anos, havia apenas "meia dúzia", mas foi aumentando a área de plantação e todos os anos a produção aumenta.
Sem revelar em quanto anda a produção anual, Manuel Nunes diz que é o suficiente para os cafés que vende no seu estabelecimento, situado numa das mais de 70 fajãs de São Jorge, que os Açores esperam ver classificadas como Reserva da Biosfera pela Unesco em março do próximo ano.
As fajãs de São Jorge - algumas de difícil acesso -, são terrenos planos ao nível do mar numa ilha que é muito escarpada e alta. Resultaram da acumulação de detritos, na sequência de terramotos, ou de escoadas lávicas das erupções vulcânicas e os seus terrenos planos e férteis, onde existe um microclima, acabaram por ser usados pelas populações, ao longo dos séculos, para a agricultura.
As plantas de café chegaram a São Jorge pela mão de um emigrante no Brasil, no século XIX, e deram-se bem no microclima das fajãs. Apesar de haver plantas em diversas fajãs, só Manuel Nunes tem uma plantação para produção.
Segundo as suas estimativas, no verão, chega a servir 200 cafés expresso no seu Café Nunes, no coração da Fajã dos Vimes, onde conta 71 residentes permanentes.
Há pessoas que vêm "até de longe", de fora da ilha, para provar o café da fajã e, "em geral", toda a gente gosta e elogia o aroma, segundo contou à Lusa.
Todo o processo de produção do café (cultivo, colheita, secagem, escolha dos grãos e torra) é biológico, manual e familiar.
Os grãos secam ao sol e é Manuel Nunes quem trata de os debulhar, com a ajuda de uma pedra ou de um tijolo. A sua sogra, com 91 anos, escolhe os grãos e a mulher, Elvira, torra-os.
A produção, que tem aumentado todos os anos, dá para os cafés que vendem e, neste momento, sobra. Posta de parte a possibilidade para vender a outros comerciantes, Manuel Nunes não quer aumentar mais a produção e pensa em breve começar a vender saquinhos de 50 ou 100 gramas aos turistas.
Os saquinhos vão sair dos teares de madeira que estão no piso de cima do café e onde Elvira Nunes e a irmã fazem colchas de ponto alto, outra arte e produção única da Fajã dos Vimes. Neste momento, são as duas únicas tecedeiras da fajã.
Além da beleza e riqueza naturais, as fajãs de São Jorge têm costumes associados, que são únicos nos Açores: o património cultural é uma dimensão essencial para uma área ou região ser classificada como Reserva da Biosfera da Unesco, a agência das Nações Unidas para a educação e cultura.
Os saquinhos com ponto alto, levados pelos turistas, serão, à partida, a única forma de o café de São Jorge sair da Fajã dos Vimes. De resto, quem o quiser provar, terá mesmo de ir até à ilha e descer a encosta, até ao Café Nunes. A caminhada vale a pena, porque, como diz Manuel Nunes, "isto aqui é o céu".
Fonte: Açoriano Oriental
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