Sandro Paim, Presidente da CCAH, sobre Setor do Turismo:
Quais são as expetativas para o setor do turismo na Terceira este ano?
A expetativa que temos é que a Terceira consiga crescer em 2016 na casa entre os 10 e os 15 por cento. Desde logo, por causa de duas operações que começaram e que têm tido resultados muito positivos. A primeira é com os Estados Unidos da América, que tem registado níveis de satisfação muito grandes e voos sempre cheios. A segunda é a operação com Espanha, que, efetivamente, não era uma prioridade da CCAH, que tinha definido como prioridades os Estados Unidos e a Alemanha, mas que tem verificado sucesso na ocupação dos voos e também nos próprios hotéis, naquilo que o turista espanhol procura. Os inquéritos realizados junto destes turistas têm sido muito positivos. Adicionando-se a estas duas operações a da Air Berlin, da Alemanha, acreditamos que se consegue dar alguma sustentabilidade ao setor e crescimento, certamente, bastante significativo. Para além disso, temos uma disponibilidade bastante maior da TAP e da SATA junto do mercado nacional. Sabemos bem o que aconteceu no ano passado. Há uns tempos atrás fiz declarações no sentido de que, no mínimo, a disponibilidade de lugares tinha de crescer na casa dos 20 a 30 por cento e aquilo que já hoje estas companhias oferecem é superior a este crescimento que tínhamos indicado.
Pode ser o ano em que o turismo terceirense sai do impasse?
Sim, de uma situação muito complicada que vivemos. Os empresários começam a ter rentabilidades positivas e, portanto, podem começar a investir.
Apesar dos indicadores mais recentes, a visão sobre o setor na ilha não será a mais positiva. Há um problema de autoestima?
Temos de deixar de falar mal de nós próprios, porque não temos razões para isso. Se formos identificar quais são os produtos ou serviços que os turistas procuram na Região, temos todos esses produtos aqui na Terceira, com uma qualidade muito alta. Podemos elencar alguns. Desde logo, surgem a Natureza e os trilhos pedestres. Temos trilhos pedestres únicos, de grande qualidade, identificados como dos melhores dos Açores e empresas a prestar serviços nessa área, também com grande formação e qualidade. Também temos a observação de cetáceos. Ainda recentemente o Diário Insular noticiava que temos já um conjunto de empresas que prestam este serviço e que a ilha tem uma grande vantagem: O barco sai da marina e, passados 15, 20 minutos, começavam-se a avistar cetáceos, ao contrário do que acontece noutras ilhas que concorrem connosco neste aspeto. Temos um produto, portanto, de grande excelência e com uma vantagem significativa. Quanto ao mergulho, temos spots únicos, identificados e protegidos e um conjunto de empresas, algumas com certificação internacional. Além disso, dispomos de um Parque Arqueológico Subaquático, que também é único nos Açores. Posso falar também da gastronomia. Os inquéritos que têm sido feitos aos turistas que nos visitam identificam a ilha Terceira como a melhor ilha para comer, com os melhores restaurantes. Provavelmente, tem a ver com o número de restaurantes que temos e com o trabalho que também fizemos no âmbito do Festival Gastronómico, de qualificação dos nossos restaurantes, de introdução dos produtos regionais e da gastronomia regional, mas com alguma inovação. O evento inclui consultoria nas áreas da cozinha e do atendimento. É outro produto de excelência que nós temos. Depois, há toda a vertente cultural. O facto de termos uma cidade Património Mundial da Humanidade cada vez mais chama turistas e é um complemento ao que é o "core" dos Açores, que é a Natureza e o mar. É algo que é único da ilha Terceira. A isso junta-se toda a vertente cultural imaterial, que passa por aquilo que reconhecemos de forma mais rápida, como as Sanjoaninas ou as Festas da Praia, mas que também inclui o Carnaval, as festividades religiosas, as touradas... Por exemplo, este Carnaval, através da Associação Regional de Turismo (ART), lançámos uma aplicação, muito vocacionada para o turismo nacional, e foi com grande satisfação que vi não só turistas nacionais, mas também turistas americanos e espanhóis, nos salões, por toda a ilha. Podiam não entender muito do que estava a acontecer ali, mas só o ambiente, os petiscos e a festa que se vive à volta da ilha é gratificante para aqueles que nos visitam. Também podia referir o canyoning, a vela... Temos empresas a oferecer tudo isso.
Mas a Terceira não tem um problema de identidade no campo turístico? Não é fácil ligar a ilha a um tipo de produto...
Não concordo. Se quisermos identificar cada ilha pela sua identidade, também não o conseguimos fazer. Sabemos o que os turistas procuram nos Açores, no seu conjunto. Tem a ver com a Natureza e com o mar. Nesse campo, temos muitos produtos para oferecer. É claro que se calhar há alguns ícones que são mais fáceis de vender, como as lagoas em São Miguel ou a vinha no Pico, mas dificilmente há outra ilha que tem o leque de produtos, acrescentando a questão cultural que aqui existe com muita força, que nós temos.
Falta diálogo entre os vários agentes?
Não, nós estamos organizados... Veja: Criámos o Terceira Pass, um projeto piloto, que envolve muitas instituições.
Como vai funcionar esse projeto?
O Terceira Pass foi lançado hoje (ontem) e é um cartão que é vendido ao turista por menos de 20 euros e que dá entradas livres nos mais diversos locais, 25 por cento de desconto na nossa restauração (foram criadas ementas especiais também para os turistas), livre acesso aos minibuses e um conjunto de descontos que vão até 50 por cento no nosso comércio tradicional, com mais de duas dezenas de lojas aderentes. Na Europa já se vê este tipo de cartão, mas nos Açores não havia. É claro que há ainda muito para ser feito, mas há diálogo e capacidade de fazer. Agora, penso que nós os terceirenses temos de ter a capacidade de identificar o que está menos bem e resolver os problemas pela calada. Depois, devemos gritar bem alto aquilo que temos para oferecer, que é muito e de muita qualidade. Muitas vezes não vejo isso, mas exatamente o contrário. Isso pode ser prejudicial para um passo significativo que temos de dar em 2017, que se prende com as lowcost.
Acredita que será possível ter lowcost a voar para a Terceira no próximo ano?
Acredito que estamos no bom caminho, com estas três operações, duas charter e uma regular. Estamos no bom caminho quando conseguimos que a capacidade da TAP e SATA crescesse. Temos agora de fazer ver às lowcost que temos o produto certo para oferecer e que será uma aposta ganha se vierem para cá. Não é com constantes afirmações de que não estamos organizados e não sabemos qual é o nosso produto que chegamos lá. Sabemos qual é o nosso produto e a estratégia está a ser implementada. O setor está mais forte e acredito que este ano será de afirmação. De uma vez por todas, temos de deixar de falar mal de nós próprios. Até porque não temos razões para isso. Quanto às lowcost, há muito trabalho a fazer ainda. É preciso fazer um esforço de todas as partes, do trade e dos privados. E também do Governo Regional e do Governo da República, para cativar uma das companhias, potencialmente a Ryanair, que já demonstrou interesse. Esse é o próximo passo que temos de dar. Era um erro ambicionar mais charters e crescer nessa vertente. Os charters têm um papel muito importante nesta fase, que é garantir a sustentabilidade daqueles que já estão instalados no setor, mas aslowcost têm um papel ainda mais importante: Uma promoção mais rápida e a capacidade de distribuir riqueza por toda a ilha. Enquanto o charter distribui dinheiro por alguns (o hotel onde o grupo fica, os autocarros, os restaurantes), a lowcost é muito individual. Há o turista que fica no alojamento local, o que fica no hotel... Porém, de uma vez por todas, temos de acreditar na qualidade do nosso produto e passar essa mensagem às lowcost. Estão muito satisfeitas a voar para São Miguel e, com certeza, ainda ficarão mais satisfeitas a voar para a Terceira.
Entrevista do Diário Insular
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