quarta-feira, 12 de outubro de 2016

António Costa admite interesse chinês na Base das Lajes

Em entrevista à Bloomberg TV o primeiro-ministro diz que há abertura para a colaboração com todos os parceiros na área da investigação científica.

O Primeiro-Ministro António Costa admite que há interesse da China nos Açores com a saída dos norte-americanos da Base das Lajes, na ilha Terceira, na área da investigação científica. Em entrevista à Bloomberg TV, em Macau, António Costa diz que Portugal vai continuar a honrar os seus compromissos como membro fundador da NATO mas quer que os Açores sejam melhor aproveitados – uma série de oficiais chineses, incluindo o presidente e o primeiro-ministro já usaram a ilha Terceira como stop over, para reabastecimento, em viagens para a América Latina, numa altura em que a China está a tentar expandir os seus interesses além fronteiras mas salvaguardar a sua economia.

“Temos um acordo com os Estados Unidos e gostaríamos de manter esse acordo. Os Açores são muito importante logisticamente para o Atlântico Norte e vão continuar a ser. Claro que isto é também uma boa oportunidade para criar uma plataforma de colaboração científica nos Açores. Estamos abertos a colaboração com todos os parceiros, incluindo com a China, para trabalhar em tecnologia de águas profundas e investigação”. António Costa afirmou que “a utilização militar da base norte-americana não é neste momento uma opção, o que é uma opção é a possibilidade de instituições da União Europeia, norte-americanas ou chinesas reutilizarem as instituições para propósitos de investigação científica”, exemplificou. “Será um enorme desperdício não se usar a infraestrutura. Precisamos de a reutilizar e se não o vamos fazer para fins militares então porque não a investigação científica?”.

Os contactos não se esgotam com a China. O primeiro-ministro entregou a Barack Obama, em julho, um estudo sobre a transformação da base em centro de investigação científica. A Base das Lajes tem serviço de ligação entre os norte-americanos e os aliados da NATO, tendo desempenhado um papel crucial durante a Guerra Fria para identificar mísseis e submarinos soviéticos. Os Estados Unidos já decidiram avançar, contudo, com a desmilitarização da Base das Lajes, reduzindo os soldados para menos de 170 no ativo, num movimento que terá forte impacto na economia local. Contudo, algumas autoridades norte-americanas estão preocupadas com qual será a estratégia geopolítica da China para o Atlântico Norte, nomeadamente com a presença nos Açores, avisando que esta se pode expandir para propósitos militares.

As relações entre Portugal e a China têm-se vindo a consolidar, com a entrada no capital da EDP e da REN e o investimento em setores como os seguros (Fidelidade) ou saúde (Luz Saúde). Agora, a Fosun deverá ficar com 16,7% do BCP e o grupo Misheng está interessado no Novo Banco se opção for dispersão em bolsa, marcando a entrada no sector bancário de retalho depois da compra do BESI pelo Haitong – que está a reforçar a sua relação com a China, como noticiou o Dinheiro Vivo.

Segundo dados oficiais citados pela Bloomberg o investimento chinês em Portugal ultrapassou os sete mil milhões de dólares no final do ano passado. Portugal é agora o quinto maior destino de investimento chinês na Europa. “Portugal foi sempre uma economia aberta e o investimento chinês sempre foi muito positivo, no setor financeiro ou energético mas não só. Por exemplo, o investimento chinês permitiu-nos capitalizar os nossos bancos”, afirmou António Costa. Questionado sobre até onde o Governo estará confortável com o investimento chinês no sector bancário, afirmou estar “bastante confortável. Temos investimento espanhol, angolano e chinês e estamos a diversificar as fontes de financiamento”, exemplificou. “Vemos isto como uma vantagem e não como uma desvantagem.” “No final do ano esperamos ter ultrapassado os problemas dos nossos bancos e recapitalizar com uma solução para o crédito malparado”, revelou.


Não é só Portugal que tem estado no radar da China, a braços com um crescimento económico abaixo do esperado, volatilidade na moeda, o yuan e ainda uma crise imobiliária prestes a rebentar. O país quer diversificar os seus mercados de exportação e tem procurado novos clientes em África (é um dos principais parceiros de Angola), na América Latina e no Médio Oriente. A ilha Terceira pode ajudar nesta diversificação, devido à localização geográfica que permite “paragens técnicas”.



Fonte: Dinheiro Vivo




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